┃PT┃
2022
Detalhes Técnicos:
Tamanho variável; instalação em madeira, papel couche 180g, transparência inkjet 75g e linha preta 100% poliéster.
Contexto Artístico:
Opium Oratorium é uma obra que nasce do meu corpo. Nasci com síndrome de Marfan e, aos 18 anos, passei por uma cirurgia delicada para a colocação de hastes de titânio na coluna. O procedimento não correu bem e precisei de quase um ano e meio de reabilitação para voltar a andar. Durante esse processo, vivi longos períodos em hospitais, atravessando experiências físicas intensas e também espirituais. Nos hospitais públicos brasileiros, é comum que pessoas de fé, geralmente ligadas à Igreja Católica, circulem pelos corredores oferecendo orações nos quartos de pós-operatório. Aquilo me marcou profundamente. A religião ali surgia como um consolo institucionalizado, uma espécie de anestesia simbólica diante da dor.
Cresci cercada por referências católicas. Estudei em escolas confessionais, vi oratórios em casas de familiares, fui atravessada pela fé mesmo sem uma vivência religiosa fervorosa. O oratório, como objeto, sempre me intrigou: uma extensão da igreja dentro da casa, um pequeno altar de devoção íntima. No Brasil, há milhares deles produzidos por artistas anônimos, geralmente não reconhecidos como parte do “cânone” artístico. Com essa obra, decidi me dedicar à linguagem do oratório como gesto artístico e criar o meu próprio altar, fundindo minhas memórias de hospital, delírios induzidos por morfina e o desejo de encontrar sentido naquela espera dolorosa.
Produzi 12 colagens com base nesses delírios e pensamentos fragmentados, como se fossem pequenas visões. Essas imagens foram dispostas no centro do oratório, como santificações da experiência vivida. A instalação, feita em madeira, incorpora ainda um diário visual criado com aquarelas produzidas com pigmento natural de barro coletado na minha região. Ao lado dele, posicionei 280 moedinhas de papel, cada uma com um pingo dessa tinta-terra, como pequenas oferendas ou votos. Também utilizei fragmentos de exames médicos e radiografias, criando um embate entre o corpo documentado pela ciência e o corpo devotado à fé, ambos marcados pela esperança de melhora.
┃EN┃
2022
Technical Details:
Variable size; installation in wood, 180g coated paper, 75g inkjet transparency, and 100% polyester black thread.
Artistic Context:
Opium Oratorium is a work that emerges from my own body. I was born with Marfan syndrome and, at the age of eighteen, underwent a delicate surgery to place titanium rods in my spine. The procedure didn’t go as planned, and I needed almost a year and a half of physical therapy to walk again. During this period, I spent long stretches in hospitals, going through both intense physical and spiritual experiences. In public hospitals in Brazil, it's common for religious volunteers, usually linked to the Catholic Church, to walk through the hallways offering prayers in post-op rooms. That marked me deeply. Religion appeared there as an institutionalized comfort, a symbolic kind of anesthesia in the face of pain.
I grew up surrounded by Catholic references. I studied in religious schools, saw oratories in the homes of relatives, and was shaped by faith, even without having a devout religious practice. The oratory as an object has always intrigued me, a small extension of the church inside the home, an intimate altar. In Brazil, thousands of these were made by anonymous artisans, rarely recognized as part of the "official" art history. With this work, I wanted to engage with the oratory as a visual language and create my own altar, combining memories of hospitals, morphine-induced hallucinations, and the desire to find meaning in that long and painful recovery.
I created 12 collages based on those deliriums and fragmented thoughts, as if they were small visions. These images were arranged in the center of the oratory, sanctifying that lived experience. The installation, built in wood, also includes a visual diary made with watercolors using natural pigments from clay I collected in my region. Beside it, I placed 280 small paper coins, each marked with a drop of that earth-based ink, like little offerings or vows. I also incorporated fragments of medical exams and X-rays, setting up a tension between the body as documented by science and the body as devoted to faith, both shaped by the hope of recovery.
Foto: Lonelas. João pessoa. Mostra coletiva Zona Abissal. Galeria Lavandeira, Centro de Comunicação Turismo e Artes, Universidade Federal da Paraíba. 2023. / Photo: Lonelas. João Pessoa. Zona Abyssal collective exhibition. Lavandeira Gallery, Center for Communication, Tourism and Arts, Federal University of Paraíba. 2023.
2480 x 3508 píxeis
12 pinturas digitais e colagens por manipulação da opacidade; áudio 3'
2022
2480 x 3508 pixels
12 digital paintings and collages by manipulating opacity; audio 3'
2022
Foto: Lonelas. João pessoa. Mostra coletiva Zona Abissal. Galeria Lavandeira, Centro de Comunicação, Turismo e Artes, Universidade Federal da Paraíba. 2023. / Photo: Lonelas. João Pessoa. Zona Abyssal collective exhibition. Lavandeira Gallery, Center for Communication, Tourism and Arts, Federal University of Paraíba. 2023.
Foto: Diego Rezende. João pessoa. Mostra coletiva Zona Abissal. Galeria Lavandeira, Centro de Comunicação, Turismo e Artes, Universidade Federal da Paraíba. 2023. / Photo: Diego Rezende. João Pessoa. Zona Abyssal collective exhibition. Lavandeira Gallery, Center for Communication, Tourism and Arts, Federal University of Paraíba. 2023.
A mostra "Zona Abissal" revela-se como uma expressão vibrante e provocativa da arte contemporânea, destacando-se durante a 21ª Semana Nacional de Museus no Brasil. Realizada na Galeria Lavandeira, localizada no Centro de Comunicação, Turismo e Artes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a exposição é resultado de uma cuidadosa curadoria e produção conduzidas pelas artistas e discentes Emanuelly Guedes e Vitória Formighieri, com o apoio essencial da Pinacoteca da UFPB, coordenada pelo professor Gabriel Bechara.
A mostra, que contou com a participação de 22 artistas, em sua maioria vinculados ao curso de Artes Visuais, transitando entre os domínios do discurso ambiental e estético. Inspirada por um workshop conduzido em 2019 pelo professor Gabriel Bechara Filho, centrado no derramamento de óleo no litoral nordestino, "Zona Abissal" oferece uma experiência artística multifacetada, abrangendo fotografias, arte digital, pinturas, desenhos, instalações, arte-objeto e esculturas.
A participação na 21ª Semana Nacional de Museus pelo Instituto Brasileiro de Museus, inserida no contexto do Roteiro Artístico #1 do Circular Cultural da UFPB, amplificou a visibilidade da exposição. O evento, realizado pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) e pela Coordenadoria de Extensão (COEX) da UFPB, proporcionou uma plataforma única para os artistas apresentarem suas criações ao público, enriquecendo o diálogo sobre a natureza, a sociedade e os desafios contemporâneos.
Ao abrir suas portas de 27 de abril a 22 de maio, a Galeria Lavandeira se tornou um epicentro de reflexão e apreciação artística, oferecendo aos visitantes a oportunidade de explorar as profundezas da "Zona Abissal". A mostra não apenas enriqueceu o cenário cultural local, mas também proporcionou uma experiência única e impactante durante a Semana Nacional de Museus, consolidando-se como um marco significativo na trajetória artística da UFPB.
The exhibition "Zona Abissal" reveals itself as a vibrant and provocative expression of contemporary art, standing out during the 21st National Museum Week in Brazil. Held at the Lavandeira Gallery, located in the Center for Communication, Tourism, and Arts at the Federal University of Paraíba (UFPB), the exhibition is the result of careful curation and production led by artists and students Emanuelly Guedes and Vitória Formighieri, with the essential support of the UFPB Pinacoteca, coordinated by Professor Gabriel Bechara.
The exhibition, which featured the participation of 22 artists, mostly affiliated with the Visual Arts program, navigates between the realms of environmental and aesthetic discourse. Inspired by a workshop conducted in 2019 by Professor Gabriel Bechara Filho, focused on the oil spill on the Northeastern coast, "Zona Abissal" offers a multifaceted artistic experience, encompassing photography, digital art, paintings, drawings, installations, art objects, and sculptures.
Participation in the 21st National Museum Week by the Brazilian Institute of Museums, embedded in the context of Artistic Route #1 of UFPB's Cultural Circuit, amplified the visibility of the exhibition. The event, organized by the Pro-Rectory of Extension (PROEX) and the Extension Coordination (COEX) of UFPB, provided a unique platform for artists to showcase their creations to the public, enriching the dialogue on nature, society, and contemporary challenges.
Opening its doors from April 27 to May 22, the Lavandeira Gallery became a focal point for reflection and artistic appreciation, offering visitors the opportunity to explore the depths of the "Zona Abissal." The exhibition not only enriched the local cultural scene but also provided a unique and impactful experience during the National Museum Week, establishing itself as a significant milestone in UFPB's artistic journey.
Foto: COEX UFPB. João pessoa. Mostra coletiva Zona Abissal. Galeria Lavandeira, Centro de Comunicação, Turismo e Artes, Universidade Federal da Paraíba. 2023. / Photo: COEX UFPB. João Pessoa. Zona Abyssal collective exhibition. Lavandeira Gallery, Center for Communication, Tourism and Arts, Federal University of Paraíba. 2023.